sábado, 16 de fevereiro de 2013

A construção de memórias ausentes - uma reflexão sobre a infância de hoje


  As crianças de hoje, apelidadas de nativos digitais, passam horas a fio em frente a um ecrã de computador ora a jogar ora a navegar pelas redes sociais.
 Enquanto pai pense na sua infância e quantas experiências foram preponderantes para o seu crescimento pessoal. Agora repare que todas elas envolviam ou o exterior, a natureza ou os outros, amigos, colegas e familiares num contacto directo e próximo. Deixe-se viajar aos seus primeiros anos de vida e note como as memórias  estão carregadas de pormenores sensitivos... o aroma da relva molhada, o sorriso envergonhado do vizinho, a cor das joaninhas que teimavam em fugir, o sussurrar dos pássaros que tentavam encontrar o ramo perfeito para pernoitar,  a cor avermelhada do sol no final de tarde de verão, o verde intenso que se misturava com o aroma floral do ramo campestre que colhia com o seu companheiro de brincadeira, as partidas que planeava com os amigos, os sermões que o vizinho mal humorado insistia repetir dia após dia, a expressão de tristeza do seu melhor amigo quando o pai não dava  permissão para uma volta de bicicleta, o sorriso e o acenar adeus à mãe como confirmação que o divertimento e alegria eram certas e tantas outras que lhe permitiram conhecer-se através dos outros e com eles tornar-se pessoa.

  Agora peço-lhe que pense no dia a dia do seu filho... Através de um ecrã de computador irá ele algum dia compreender o sorriso que esconde uma mentira inocente? Que a vergonha ruboriza os que a têm? Que quando se diz algo que não se sente os olhos não sorriem? Que a empatia envolve uma escuta atenta em que pequenas expressões faciais são fundamentais para que o outros se sintam compreendidos? Que o toque, mesmo que leve nas costas, do melhor amigo alivia o peso dos problemas? Que partilhar gargalhadas acerca de tudo e nada funciona como uma alavanca para o bem estar e vontade de aprender?
Enquanto pais permitimos que a infância dos nossos filhos seja vazia de emoção, afecto e vivência... Porque dia após dia aceitamos, resignados ou aliviados, que sossegue a fala e a agitação caminhando imóvel pelos perigos de um contexto  irreal e tão pouco estimulativo do seu desenvolvimento pessoal.

 Enquanto adulto, com uma bagagem rica de experiências, certamente reparou como o tempo voa enquanto pesquisa algo na internet, já percebeu que muito amigos usam o facebook como um diário em que se expõem de forma inconsciente e provavelmente já teve uma ou outra situação que não lhe agradou ver divulgada no seu mural. Provavelmente já se questionou acerca desta nova forma de contacto e se alguma vez poderá ser apelidada de interacção e comunicação. O seu filho ainda não desenvolveu a capacidade de se questionar acerca do sentido da realidade, neste momento apreende o seu significado, e como pai é responsável por lhe apontar a realidade e o orientar na suas experiências. Afinal de contas, é uma escolha sua! Só sua! Não o culpe por não estar atento, não lhe aponte o dedo, mas antes aceite o desafio da parentalidade e assuma o comando, o seu papel de pai.

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